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REGRAS PARA SE FAZER O POEMA VARANO

sábado, 13 de novembro de 2010

Um Predestinado Trapalhão

Episódio I

Era uma vez - duas, tres e várias outras – um sujeito muito engraçado, que acho não sabia que o era. Uma pessoa que, se algum mal fez a alguém, creio que foi sem querer.

Na sua simplicidade, às vezes, parecia ser o cara mais ingênuo do mundo. Media um metro e sessenta e cinco, se tanto, cabelo bem preto e um pouco encaracolado, branco azedo, cuja tonalidade de pele podia ser confundida facilmente com a de uma vela, pesava uns 70 quilos, barriga proeminente, barba, bigode e grossas sobrancelhas. Seu estilo de corte de cabelo era o “à vontade”, cortado de dois em dois meses, por economia. Seu andar lembrava o daqueles “deixa-que-eu-chuto”, isto é, que têm uma perna mais curta do que a outra. Não era bem o caso dele, pouco mancava, mas sua cabeça normalmente pendia para um lado, como se o centro de gravidade estivesse ligeiramente deslocado para aquele lado.

Esse rapaz gostava de fazer filmagens de casamentos, aniversários e outros eventos, geralmente modestos ou de pessoas conhecidas. Alguns atribuem a inclinação de sua cabeça ao uso frequente de sua pesada filmadora – a popular máquina de filmar - sempre usada no mesmo ombro.

Ele dava preferência a eventos que tivessem bastante “comes-e-bebes”, dizia. Infelizmente, para ele, ou felizmente, para seus clientes eventuais, suas filmagens não foram adiante. O motivo aparente foi que, muitas vezes, as pessoas filmadas apareciam, ora sem os pés, ora sem suas cabeças! Eu explico: O rapaz tinha um cacoete: gostava de sentar-se com as pernas esticadas e cruzava e descruzava os pés a todo instante. Agora, passara a fazê-lo também em pé. A cada cruzada ou descruzada, um giro na câmera. Em sua ingenuidade, até hoje ele não sabe explicar porque os “clientes” sumiram.

Nas suas andanças, cheias de situações pitorescas, nosso personagem foi parar em uma empresa de telecomunicações. Passou a ser técnico. Lá, continuou a fazer história.

Conta-nos um de seus colegas que, certa vez, vinham os dois conversando animadamente por uma rua do Rio, quando o animado diálogo transformou-se em um monólogo. Agora tenho que dar nomes aos bois. O rapaz chamava-se Júlio, para os colegas, Julinho. Seu companheiro nesse episódio era o não menos carismático Nolasco que, ao andar uns cem metros falando, gesticulando e dando risadas da estória que contava, percebeu que seu amigo Julinho não mais estava dando suas risadas ritmadas, mais parecidas com o som, ora de um surdo (o tambor), ora de um repinicador (também um tambor).

Nessa hora Nolasco tomou um susto! Cadê o Julinho! Olhou pra todos os lados e não viu o amigo. Decidiu voltar para tentar encontrar o dito cujo. Gritava Julinhooooo! Dava uma pausa, para ver se tinha retorno, e gritava de novo.

De repente, ouviu uma vozinha, um pouco apagada, mas com um tom de desespero. Foi assuntando, assuntando e chegou lá.

Julinho, distraído com a conversa, havia caído em um bueiro sem tampa, no meio da rua. Logo, juntou-se ali uma pequena multidão de curiosos e prestativos transeuntes que ajudaram o rapaz a sair de dentro do bueiro, todo sujo e fedendo a esgoto.
Já então são e salvo, foi direto à empresa, para tomar um banho e, de passagem, impregnar a todos com seu cheiro insuportável de merda.


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