Livros


REGRAS PARA SE FAZER O POEMA VARANO

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

NÃO BULA COM O GAGUIM!













Desculpe, moço, o meu verso,
pois eu sou ‘mei’ controverso,
mas juro não sou perverso,
tenho até bom coração.
Mas olhe o quê que acontece,
desde que o dia amanhece,
até quando ele anoitece
na cidade ou no sertão!

Tem zombeteiro pra tudo.
Pra careca, cabeludo,
magricela, barrigudo,
bem de vida e bem mau pago!
Difícil sim é não rir,
ficar sério... ao pressentir
que alguém tenta lhe inquirir
sem conseguir... porque é gago!

˗ Ma, ma, mas, me diga aqui
co-co-mé quieu vou i-i
até-té-té Paraty
me-me diga, puuuur favor?
Para a resposta lhe dar,
eu tive que imaginar
um jeito de lhe informar
sem parecer gozador...
  
Não pude me controlar
para tentar lhe explicar,
e danei-me a gaguejar
e gaguejei muito além!
Eu gaguejei tanto, tanto...
por praga dele ou quebranto,
foi uma cena de espanto
...eu gaguejava era bem!

Ô bi-bicho ruim êss povo,
é po-povo velho, é novo...
na-na cabeça tem ovo,
num va-va-vale um vintém!
Num zombe nem se for pago,
num-num cometa esse estrago,
eu qui-quis zombar do gago
...fiquei ga-gago também!

Então falei: Ô gaguim,
Con-con-conte aqui pra mim,
por que você fala assim
ca-ca-ca  fi-fi  tô-tô?
O gaguim me respondeu:
 ̶  Ga-ga-guim num-num sou eu,
quem-quem te pariu morreu
de-depois que te cagou!
  
Sê-sê-seu fii duma égua,
vou te pa-passar a régua,
va-vai rolar cinco ‘légua’
Ra-ralando pelo chão!
Ga-gaguim é tua mãe,
estrume do meu gadãe!
Va-vai gritar ma-ma-mãe,
vai me-me pedir perdão!

Re-respondi: Tenha calma,
vo-vou rezar pra sua alma,
co-comece a bater palma,
só vou buscar meu facão!
Ga-ga-gaguim nessa hora
bateu perna, foi-se embora
e eu fiquei bom, como agora
...mas aprendi a lição!

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

COISAS DAQUELE TEMPO (Ó minha Barra do Corda)


Deixo aqui nesse papel
Momentos de um tempo antigo 
Histórias que vêm comigo 
Que não consigo esquecer 
São coisas lá da infância 
Que ficaram na distância... 
Mas... 'recordar é viver': 

Em um pedaço de arame 
Dobrado qual fosse um L 
Com cuidado à flor da pele 
Colocava uma espoleta 
Detonava atrás de alguém 
Disfarçava, olhava além 
E voava igual cometa! 

Jogava bola na rua 
Nadava no rio Corda... 
Hoje a lembrança recorda 
Com vontade de voltar! 
Infância livre e sadia 
Deus me deu e eu nem sabia 
Que um dia ia se acabar! 

Nos cipós das gameleiras 
Que havia na beira do rio 
Em ato dito bravio 
Eu pulava lá no meio... 
Igual um peixe nadava 
Era a vida que eu amava 
Sem medo, dor, sem receio! 

Uma roda e um arame 
Uma bola, um desafio 
A correnteza do rio 
O empinar de um papagaio 
Faziam parte da vida 
Graças a Deus bem vivida 
Todo o ano, maio a maio! 

Meus carros tinham estradas
No quintal da minha casa
Trapézios e voo sem asa
Lá no quintal da vovó!
Papel de bala era ingresso
Nosso circo era um sucesso
...A Vilma era o meu xodó!

Com flecha acertava as mangas
Quase sempre de primeira
Tijolinhos em caieira
Pra carregar caminhão
Pilhas usadas ‘tambores’
Meus caminhões tinham cores
Nas estradas do meu chão...

Havia índios nas ruas
As índias com curumim
(Eu cresci num meio assim)
Eram do grupo Canela.
Eu passava pela rua
Via índia seminua
...Ficava olhando pra ela!

A casa do Olímpio Cruz
Tinha uma calçada alta
E eu ˗ já menino peralta ˗
Ia pra ver índia passar...
Disfarçava na calçada
Vez por outra, uma olhada
Ninguém ia desconfiar!

Montei no lombo do tempo
Que me levou mundo a fora
Disse adeus e fui-me embora
Pra longe daquela terra
Mas... a memória é tamanha
Por onde vou me acompanha
E quase sempre não erra! 

Ah tempo bom... hoje eu sei
Vivia como queria
Na inocência e na alegria
Rodeado de amizades...
Já não vejo essas pessoas
E aquelas horas tão boas
Deixaram-me só saudades...

Não falo mal desse tempo 
Mas louvo o meu tempo antigo 
Que até se fez meu amigo 
E me levou de roldão! 
Hoje lembro com um sorriso 
E digo: Quando preciso 
Eu tenho o tempo na mão!

Aqui ˗ mesmo aposentado ˗
Vivo em meio aos afazeres. 
A vida dá-nos prazeres 
Que podemos desfrutar! 
...Cabe-nos fazer o bem 
Ajudar, não ver a quem, 
Por fim... amar e amar! 
..................................
Ó minha Barra do Corda
Um dia lá vou voltar
Vou no rio me banhar
Pisar de novo esse chão
Por enquanto é na lembrança
Que volto a ser a criança
Que te tem no coração!