Desculpe, moço, o meu
verso,
pois eu sou ‘mei’ controverso,
mas juro não sou perverso,
tenho até bom coração.
Mas olhe o quê que
acontece,
desde que o dia amanhece,
até quando ele anoitece
na cidade ou no sertão!
Tem zombeteiro pra tudo.
Pra careca, cabeludo,
magricela, barrigudo,
bem de vida e bem mau
pago!
Difícil sim é não rir,
ficar sério... ao pressentir
que alguém tenta lhe
inquirir
sem conseguir... porque é
gago!
˗ Ma, ma, mas, me diga
aqui
co-co-mé quieu vou i-i
até-té-té Paraty
me-me diga, puuuur favor?
Para a resposta lhe dar,
eu tive que imaginar
um jeito de lhe informar
sem parecer gozador...
Não pude me controlar
para tentar lhe explicar,
e danei-me a gaguejar
e gaguejei muito além!
Eu gaguejei tanto, tanto...
por praga dele ou quebranto,
foi uma cena de espanto
...eu gaguejava era bem!
Ô bi-bicho ruim êss povo,
é po-povo velho, é novo...
na-na cabeça tem ovo,
num va-va-vale um vintém!
Num zombe nem se for pago,
num-num cometa esse
estrago,
eu qui-quis zombar do
gago
...fiquei ga-gago também!
Então falei: Ô gaguim,
Con-con-conte aqui pra
mim,
por que você fala assim
ca-ca-ca fi-fi tô-tô?
O gaguim me respondeu:
̶ Ga-ga-guim
num-num sou eu,
quem-quem te pariu morreu
de-depois que te cagou!
Sê-sê-seu fii duma égua,
vou te pa-passar a régua,
va-vai rolar cinco
‘légua’
Ra-ralando pelo chão!
Ga-gaguim é tua mãe,
estrume do meu gadãe!
Va-vai gritar ma-ma-mãe,
vai me-me pedir perdão!
Re-respondi: Tenha calma,
vo-vou rezar pra sua alma,
co-comece a bater palma,
só vou buscar meu facão!
Ga-ga-gaguim nessa hora
bateu perna, foi-se embora
e eu fiquei bom, como
agora
...mas aprendi a lição!