Livros


REGRAS PARA SE FAZER O POEMA VARANO

quarta-feira, 29 de abril de 2020

A SAGA DE UM MANAUARA NO ROCK-IN-RIO












Conheci um manauara
Caboco bom toda hora
Nada na vida o assusta
Nada mesmo o apavora
Caboco conversador
Valente trabalhador
Rockeiro sim... sim senhor!
Vou falar dele e é agora:
*
Só pra ir ao Rock-in-Rio
Lá no Rio de Janeiro
Fez de tudo e mais um pouco!
Sem passagem, sem dinheiro,
Pegou um barco no porto
Mesmo sem nenhum conforto
Pra Belém – aeroporto
E lá se foi o rockeiro!
*
Vestido de tico e mico
Saco de manga nas ‘costa’
Comeu manga o dia inteiro
Ganharia qualquer aposta
Lá se foi o aventureiro
Rumo ao Rio de Janeiro
Como faz um bom rockeiro
Pois o rock é o que mais gosta!
*
Esse caboco era esperto
Queria ao Rio chegar
Dormiu em cima de banco
Deu jeito pra trabalhar
Era astuto e de bom tino
Queria chegar ao destino
Pois seu sonho de menino
Era ver banda tocar...
*
Já no Rio de Janeiro
Se hospedou em Realengo
Casa do amigo do amigo
De um torcedor do Flamengo!
Dormia em colchão na sala
Em casa perto de vala
E ouvia barulho de bala
...Não tinha molengotengo!
*
O povo daquela casa
Era um povo noveleiro
Ia dormir de madrugada
E inda acordava primeiro
O rockeiro cochilava
Mas o povo nem ligava
E o rapaz ali ‘pescava’
Num cantinho o tempo inteiro
*
Noutro dia inda bem cedo
Passavam por cima dele
Iam pra lá e pra cá
Sem querer acordar ele
E o rapaz nunca pensou
Em passar o que passou
Mas ali mesmo ficou
Pois seu destino era aquele!
*
Chegando ao Maracanã
Onde seria o evento
Assuntou... ouviu conversa
Era chegado o momento
A chance agora era sua
Nasceu virado pra lua
Não iria ficar na rua
Deus daria o livramento!
*
Entrou na fila o rapaz
Pra fazer a inscrição
A fila era tão grande
Que dobrava o quarteirão!
Rockeiro e trabalhador
Vestiu-se de varredor
Com avental multicor
E ganhou um vassourão!
*
Assistiu todos os shows
Sem avental – era esperto –
Na turma do gargarejo
Bem na frente – ali bem perto!
Mas quando entrou Guns and Roses
Não fez fotos, não fez poses
Empurrões de mais de doze
O ‘baixim’ foi encoberto!
*
O alvoroço foi grande
Ele ali pisoteado
Alguém deu a mão pra ele
Ele olhou... era um viado
De rockeiro travestido,
E ele quase sem sentido
Disse muito agradecido
Se mandou lá pro outro lado!
*
Eita sufoco danado
Mas tudo valia a pena
Dormia na rua o coitado
Sem colo de Madalena
Mas cada show era festa
Suor pingando na testa
Manauara da ‘mulesta’
No final entrava em cena.
*
 Quando terminava um show
Era hora de varrer
150 garis
Vassoura e muito a fazer
Madrugada era varrendo
Mãos e dedos já doendo
O dia quase amanhecendo
Cumpria mais um dever
*
Depois que tudo acabou
Tinha que dar meia-volta
Sem dinheiro pra passagem
Pediu ajuda a uma escolta
Foi parar lá em Brasília
Contou que tinha família
E depois de uma vigília
Ganhou passagem de volta!
*
Mas enquanto ali andava
Passou perto de um mercado
Caminhão de melancia
Seria descarregado
Ofereceu-se o rapaz
A um senhor, o capataz,
Pensou: dinheiro se faz
E foi logo contratado.
*
De cima do caminhão
Melancia alguém jogava
Ele pegava depressa
E logo a outro passava
Até que alguém se atrasou
A fila toda parou
Outra melancia chegou
E em sua cabeça quebrava!
*
Melancia pra todo lado
Uma meleira total
Ele bem intencionado
No seu serviço braçal
O braço ficando duro
Ele se viu num apuro
Viu tudo ficando escuro
Pensou no seu funeral!
*
Arre égua, que penúria
Que sofrimento danado
Tinha que fazer dinheiro
Pra voltar pro seu estado
Pois passagem tinha ganho
Mas precisava de um banho
De cansaço estava fanho
E o dinheiro era contado!
*               
Hoje ele conta essa história
De sufoco e de aventura
Com sonho realizado
...Hoje é outra criatura!
Com muita história o passado
Será sempre relembrado
E o rockeiro... emocionado
...Canta e lembra o Sepultura!
*
Quem hoje olha pra ele
Diz: não valia um fiasco!
Mas hoje o problema dele
(dessa vez é que eu me lasco)
É seu time despencando
Tropeça, cai... vai tentando
E ele continua sonhando
- Coitado! Torce pro VASCO!

domingo, 26 de abril de 2020

PREOCUPAÇÃO


















Preocupa-nos do povo o rumo incerto,
sedento por migalhas de assistência,
que chora na agonia da existência
e deita o corpo exausto ao descoberto!

Preocupa-nos a vida em campo aberto,
ao jugo da barbárie e da violência;
pedintes que suplicam por clemência...
e morrem como bichos no deserto!

Revoltam-nos os rasgos da arrogância,
que a empáfia estufa o peito e preconiza:
Primeiro, vai-se ao pote da ganância.

Segundo, ri-se ao povo que ironiza!
...Distante dos palácios da jactância,
na rua... é o miserável que agoniza!