─ Nas estradas que eu
trafego
Muitas histórias carrego
Pois é nisso que eu me
apego
E sempre volto pra cá!
─ Vi um dia o Jesuíno
Lá no bar de Valdivino
A falar do seu destino
Nas terras de Marruá!
Era um cabra valentão
Fumava, cuspia no chão
Dois palmos tinha sua mão
E ele mentia que só!
Sempre contava vantagem
De vitória e vadiagem
Em mil e uma viagem
Mentia de fazer dó!
O cabra falava tanto
Que eu calado ali no
canto
Quase que até me levanto
Pra mandar ele parar!
Foi quando entrou ‘mineirim’
Com cara de ‘coitadim’
Se abancou lá num
‘cantim’
Pra ‘mode’ ao cabra
escutar...
O cabra olhou de soslaio
Meteu a mão num balaio
Fez do seu jeito um
ensaio
Olhando pro ‘mineirim’...
Disse: Em terra de
valente
Caipira fica sem dente
Pois mais mineiro que
gente
Já mandei lá pros
‘confim’!
Mineirim coçou a testa
Disse: ocê, home, num
presta!
Hoje a burra desembesta
Causquieu num fujo de
briga!
Eu vou achatá sua venta
Causqui sua cara é
nojenta
Façocê cumê pimenta
Inté tê dor de barriga!
O cabra arrancou a faca
Disse: vem, cara de vaca
Te achato que nem pataca.
E engalfinharam-se os
dois!
Era coice, igual na baia
Pontapé, rabo de arraia
‘Ispritu’ de malafaia
Como em briga de dois
bois!
O negócio ficou feio
Gente em volta, eles no
meio
Mais parecia um rodeio
Sem proteção, sem cercado
Voava pé de chinelo
Chapéu, bainha, cutelo
Naquele belo duelo
Até vir o delegado
Delegado viu a briga
Faca riscando barriga
E ele ali fazendo figa
Pra ninguém se machucar
Foi quando o povo apartou
E a briga ali terminou
Delegado então falou
'Vamagora' conversar!
Gritou alto o mineirim:
Eu só briguei um cadim
Purcaus quiele disse a
mim
Quieu só sei dançá
catira!
Mostrei pra ele, dotô,
Doncovim e proncovô
Pra respeitá eu, ô sô!
Com honra sou caipira...
Delegado foi além:
─ Se o caipira é do bem
Eu o respeito também.
Falo como delegado!
Hoje eu vi briga de fato
Acerto dos dois no ato
Foi briga de cão e gato
Nenhum dos dois é
culpado!
Delegado Celestino
Disse então a Jesuíno
Que desde que era menino
Morador da trizidela
Queria ver um duelo
Como aquele... assim tão
belo!
Disse mais: Pegue o
chinelo
E volte pra Currutela!
..........................................
Como a desse Jesuíno
Com mineirim no destino
Eu cá comigo imagino
Estórias que ouço cá!
Vou levando a vida em paz
Destino a gente é quem
faz
Aprendi isso, rapaz
...Nas terras de Marruá!